Tecnologia “blockchain” pode ajudar a preencher lacunas do sistema financeiro,
afirma autoridade.

Fonte: Valor Econômico, Por Sérgio Tauhata — São Paulo, 11/04/2022. 

Os reguladores brasileiros estão atentos às transformações que vão surgir com o
blockchain e as criptomoedas, ressaltou o coordenador dos trabalhos sobre a
moeda digital do Banco Central, Fabio Araujo, durante o evento Harvard Brazil,
promovido pela universidade americana. “Estamos vivendo um momento de
experimentação muito grande, mas o potencial [de transformação] é fantástico”.

O representante do BC brasileiro no evento realizado em Boston disse que, do
ponto de vista da autoridade, as tecnologias são inevitáveis e “com muito potencial
para aumento de eficiência nas transações”.

Conforme o especialista, “as novidades
oferecem possibilidade de se criar produtos personalizados, fugindo da ideia que
são os consumidores que têm de se encaixar no produto de prateleira”. Na visão de
Araujo, “são tecnologias que podem alcançar número grande de pessoas e preencher lacunas que o sistema financeiro tem hoje”.

O coordenador dos trabalhos sobre a moeda digital do BC explica que “a
inexorabilidade da ‘web 3.0’ e do ‘blockchain’ está bem clara para os reguladores”. Já
o papel do real digital nesse cenário, afirmou Araujo, “é ser uma ferramenta para
construir uma ponte entre o que a gente tem hoje e o que achamos que vai ter em
breve com as novas tecnologias”.

Conforme o representante da autoridade monetária, “temos de traçar um caminho
para que não tenha um momento de ruptura, ou seja, desenhar ferramentas e regulação para que a transição a esse novo modelo de economia seja o mais suave
possível”.

O novo mundo financeiro e de negócios que vai ser moldado pelas tecnologia
blockchain e pelos criptoativos ainda está na “idade da pedra”, afirmaram os
especialistas presentes no evento, em uma comparação feita para indicar em qual
estágio estaria esse ecossistema em termos de evolução.

O CEO da gestora Hashdex, Marcelo Sampaio fez outra comparação, com a evolução da própria internet. Segundo o profissional, a realidade que começa a ser construída a partir do blockchain hoje equivale ao estágio de maturidade da rede mundial em 1997. “Ou
seja, tudo ainda está para acontecer.”

Conforme o gestor, “nos próximos anos, muitas soluções e usos vão começar a emergir. “Os melhores projetos nem foram inventados ainda”, pontua. “O blockchain
é algo tão transformador quanto foi a velha internet.” Na visão do chefe de ativos
digitais do BTG Pactual, André Portilho, “ainda não temos a menor ideia do que vai
ser criado nos próximos 20 anos”.

O diretor do Mercado Bitcoin, Fabrício Tota, comparou ainda a chegada do
blockchain com o domínio do fogo. “É uma alegoria que gosto de usar, porque quem
usou primeiro não imaginou naquele momento que existiria motor a combustão ou
siderurgia, estamos ainda quase na idade da pedra [do blockchain]”.

Para Portilho, do BTG, “temos uma nova tecnologia mais eficiente que a estrutura
atual da indústria financeira, mas temos de, outro lado, ter uma série de boas
práticas, de governança e de regulação, que vão ser necessárias para que essa
tecnologia vire ‘mainstream’”.

Conforme o executivo, “para ir ao mercado aberto não há como não ter base regulatória, as regras do jogo tem de estar mais
estabelecidas”.

Em um outro painel do Brazil Conference, debatedores concluíram que a
digitalização tem sido essencial para um aumento na inclusão financeira, com o
surgimento de novas ferramentas e com a ampliação da concorrência.

Segundo o professor de direito da FGV, Carlos Ragazzo, antes do movimento de
digitalização “havia um problema de oferta dos serviços financeiros, tanto em
termos de acesso quanto de custo”.

O PIX, apontou o especialista, “é um exemplo de como uma redução de custo e
ampliação de acesso a um serviço financeiro traz uma possibilidade de inclusão
muito grande e significativa que a gente não tinha visto antes”.

Ragazzo lembrou que, com a disseminação de uso do celular, a própria base de
aparelhos existente e a rede de comunicação, “acabaram por se tornar a própria
infraestrutura do serviço bancário”. Na visão do professor da FGV, “e, na verdade, o
uso de cartões não diminuiu com o PIX, mas continua crescendo, ou seja, o sistema
de pagamento instantâneo está substituindo mais o TED, o doc e as transações que
eram feitas em dinheiro físico”.

O chefe da divisão de nuvem da Amazon, a AWS, no Brasil, Cleber Morais,
acrescentou ainda que o PIX “permitiu nesse último ano que 40 milhoes de pessoas
que nunca tinham feito uma transação financeira fizessem uma operação”. Ao longo
dos últimos 10 anos, o sistema financeiro brasileiro sofreu transformação enorme.
Conforme Morais, “novos entrantes em segmentos dominados por grandes bancos
trouxeram uma grande mudança” no setor.

Para o chefe da AWS no Brasil, “os bancos têm de se atualizar”. O executivo citou a
migração de sistemas para a nuvem anunciada pelo Itaú Unibanco. “Isso traz vantagem competitiva”, argumentou, “traz uma agilidade, porque, tradicionalmente uma instituição pode demorar de três a quatro meses para desenvolver um novo produto, mas uma fintech ou banco digital, que tem sistemas todos na nuvem, vão levar uma semana ou dez dias.”

Morais citou que a entrada de novos concorrentes na área de crédito tem ajudado a
melhorar a oferta e trazer novos consumidores para o mercado. “Há muito mais empresas oferecendo crédito baseado em novas tecnologias e girando mais a economia.” O executivo da Amazon falou ainda sobre a necessidade crescente de mão de obra diante dos processos de digitalização da economia. “O Brasil tem mais de 300 mil vagas de tecnologia abertas para suprir o que está acontecendo.”

A pesquisadora Yasodara Cordova, “principal privacy researcher” na unico IDtech,
enfatizou a necessidade de se aprimorar a segurança nos novos ambientes e
processos digitais. “O próximo diferencial competitivo será a segurança em
ambientes digitais”, afirmou. “E a maior revolução nos próximos cinco anos virá da
implementação de redes de segurança nas pontas”, pontuou.

 

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